Diretamente da Ilha do Dragao...


"- Bem, seja lá como for... Olhei e vi a última coisa que esperava ver: um enorme leao avançando para mim. E era estranho porque, apesar de nao haver lua, por onde o leao passava havia luar. Foi chegando, chegando. E eu, apavorado. Voce talvez pense que eu, sendo um dragao, poderia derrubar a fera com a maior facilidade. Mas nao era esse tipo de medo. Nao temia que me comesse, mas tinha medo dele... nao sei se está entendendo o que quero dizer... Chegou pertinho de mim e me olhou nos olhos. Fechei os meus, mas nao adiantou nada, porque ele me disse que o seguisse...
- Falava?
- Agora que voce está perguntando, nao sei mais. Mas, de qualquer maneira, dizia coisas. E eu sabia que tinha de fazer o que me dizia, porque me levantei e o segui. Levou-me por um caminho comprido, para o interior das montanhas. (...) Finalmente chegamos ao alto de uma montanha que eu nunca vira antes, no cimo da qual havia um jardim. No meio do jardim havia uma nascente de água. (...) Nunca tinha visto água tao clara e achei que se me banhasse ali talvez passasse a dor da pata. Mas o leao me disse para tirar a roupa primeiro. (...) Ia responder que nao tinha roupa, quando me lembrei que os dragões sao, de certo modo, parecidos com as serpentes, e estas largam a pele. 'Sem dúvida alguma é o que ele quer', pensei.
Assim, começei a esfregar-me, e as escamas começaram a cair de todos os lados. Raspei ainda mais fundo e, em vez de caírem as escamas, começou a cair a pele toda, inteirinha, como depois de uma doença ou como a casca de uma banana. Num minuto, ou dois, fiquei sem pele. Estava lá no chao, meio repugnante. Era uma sensação maravilhosa. Comecei a descer à fonte para o banho. Quando ia enfiando os pés na água, vi que estavam rugosos e cheios de escamas como antes. (...) Esfreguei-me de novo no chao e mais uma vez a pele se descolou e saiu; deixei-a entao ao lado da outra e desci de novo para o banho. E aí aconteceu exatamente a mesma coisa. Pensava: ' Deus do céu! Quantas peles terei que despir?' Como estava louco para molhar a pata, esfreguei-me pela terceira vez e tirei uma terceira pele. Mas ao olhar-me na água vi que estava na mesma. Entao o leao disse(mas nao sei se falou): 'Eu tiro a sua pele'. Tinha muito medo daquelas garras, mas, ao mesmo tempo, estava louco para ver-me livre daquilo. Por isso me deitei de costas e deixei que ele tirasse a minha pele. A primeira unhada que me deu foi tao funda que julguei ter atingido o coração. E quando começou a tirar-me a pele senti a pior dor da minha vida. A única coisa que me fazia aguentar era o prazer de sentir que me tirava a pele. É como tirar um espinho de um lugar dolorido. Dói pra valer, mas é bom ver o espinho sair.
- Estou entendendo - disse Edmundo.
- Tirou-me aquela coisa horrível, como eu achava que tinha feito das outras vezes, e lá estava ela sobre a relva, muito mais dura e escura do que as outras. E ali estava eu também, macio e delicado como um frango depenado e muito menor do que antes. Nessa altura agarrou-me e atirou-me dentro da água. A princípio ardeu muito, mas em seguida foi uma delícia. Quando comecei a nadar, reparei que a dor do braço havia desaparecido completamente. Compreendi a razão. Tinha voltado a ser gente(...). Depois de certo tempo, o leao me tirou da água e vestiu-me.
- Como? Com as patas?
- Nao me lembro muito bem. Sei lá, mas me vestiu com uma roupa nova, esta aqui."

A viagem do peregrino da Alvorada - As crônicas de Nárnia, C.S. Lewis

Imagine uma leitura que te leva pra muito longe e ao mesmo tempo parece descrever de um jeito fantástico o que acontece na sua vida e dentro do seu coração. Então.

2 comentários:

{ Carol Botelho } at: 14 de março de 2010 às 22:41 disse...

Ah...q perfeito!
Eu quero ler!
=D

{ isinhacroliveira } at: 24 de maio de 2010 às 14:58 disse...

narnia é meu livro preferido li 2 vezes já